Isto é o meu trabalho. Não, não é a agricultura. São os sítios por onde ando a fazer os meus inquéritos. Gostava eu de colocar aqui todos os rostos simpáticos com que me cruzo, todos os pátios coloridos, jardins sossegados, cortinas bordadas nas janelas, peças antigas que os donos reaproveitam. Mas não me sinto no direito de invadir a privacidade das pessoas, por isso coloco aqui o que me é possível.
Gostava de ter conhecimentos para captar todas as tonalidades que vejo. Os brilhos do sol, os tons verdes, as cores fortes das flores. Até os cheiros, se fosse possível. Cada estação tem o seu cheiro próprio. E esta, para além da erva seca, tem o cheiro das sardinhas assadas, dos grelhados. Também gostava de passar os sons. Os risos das crianças que agora estão de férias, as conversas da família reunida à mesa do almoço no alpendre, o chapinhar na água. Hoje vi uma menina que, à falta de piscina, estava no terraço a enfiar a cabeça dentro de um alguidar e a mangueira a jorrar-lhe água para cima. Quando lhe disse boa tarde, levantou a cabeça e desatou a rir. Apanhada em flagrante numa pose pouco comum, ficou envergonhada e eu fiquei feliz com a simplicidade dela. É fácil ser feliz.
O meu trabalho é feito muito em parte em cidades, mas também bastante em zonas rurais, que adoro. Passo por quintas lindas e paisagens fantásticas. E vejo muitas casas abandonadas. Esta não é a mais bonita, mas dá para tentar imaginar que vidas passaram por aqui e que situações terão sido aqui vividas.
Não me posso queixar, pois não? Claro que o meu trabalho tem desvantagens como qualquer outro, mas sem dúvida, prefiro olhar para o lado bom. E os aspectos positivos são tantos, que me sinto realmente abençoada no meu trabalho.
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