sábado, 28 de novembro de 2015

O meu antídoto





Naqueles dias mais difíceis que nos remetem para a reflexão, para o sorriso tímido, para a palavra contida, para a quietude... nesses dias, nada melhor que ocupar as mãos. Então é um corropio de ideias que me põem a fervilhar, deixam a casa de pantanas porque espalho tudo por todo o lado, mas deixam o ambiente mais alegre e acolhedor. Assim, a Primavera já se preparou para os passarinhos que se queiram sentir confortáveis com a casinha pronta para a família e a entrada recebe um convite para acolher quem vier por bem. 
Dois convites a entrar, dois convites a ficar. Quem vier por bem, queira instalar-se, por favor.
Desejo um fim de semana cheio de criatividade e actividade a todos os que queiram ocupar o seu tempo de forma envolvente.


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Os bebés desta família





O Rafa era o xodó de uma parte da família. O Bolinha, da outra. O Bolinha, estando no avô, era-lhe mais acessível e com ele o meu pequeno brincava que se fartava, cuidava da sua higiene e tinha uma constante preocupação para com o seu bem-estar. Subitamente, numa noite em que a corrente se soltou, e malandro como só ele, foi para a estrada, onde um carro o atropelou e lhe tirou a vida. Foi um duro golpe para o avô e para o neto. Foi a primeira perda do meu pequeno e foi realmente sentida. Acompanhei-o o melhor que pude, lembrando-me das minhas próprias perdas enquanto pequena. Mas com esta perda cresceu o interesse pela vida dos animais e as visitas ao canil tornaram-se assíduas e os planos para participar em acções de voluntariado também. Bonito de ver o meu pequeno interessado assim. Mas eis que chegou à família mais um bonequinha, ou melhor, uma Boneca! Resgatada de uma serração, onde a mãe o pariu e os irmãos foram esmagados pelas máquinas, os trabalhadores, ao verem-nos lá, perguntaram-nos se não a queríamos. E porque não? A ideia cresceu na nossa cabeça e no nosso coração e um dia trouxemos a Boneca para casa. Descontrolada como só ela. Esta história já tem um mês ou dois, e a Boneca já toma ares de mulherzinha, mas o cérebro continua de bebé e se bem que o corpo já está maior, as brincadeiras só lhe acentuam o peso. Não sabemos que tipo de personalidade irá adquirir, sabemos que é difícil de educar e que tem um temperamento desobediente e brincalhão. Onde é que eu já vi este filme? Pois, carracinha e Boneca estão bem um para o outro. Somos uma família feliz, portanto :)


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Neste início de semana, escuta com o coração





Quando falas, apenas repetes o que já sabes. Mas quando escutas, podes aprender algo novo.

Dalai Lama



sábado, 21 de novembro de 2015

Iogurte caseiro






O dia de Outono perfeito. Sol a espreitar por entre nuvens, vento forte a espalhar o resto da folhagem das árvores e a fazer montinhos pelos cantos das ruas, a dar vontade de lhes saltar por cima e de espalhar folhas e mais folhas por todos os lados. 
Depois de uma noite de chuva a ouvi-la cair pelos beirais, nesse som encantador que embala, não há melhor acordar que este e desfrutar de um começo de dia lento e apetitoso.
Desde que experimentei esta receita de iogurte sem iogurteira, que não quero outra coisa! Mais uma delícia que descobri, não só pela sua praticidade e economia, mas por um mundo novo de sensações e emoções que recomecei a explorar.
Ai, como tudo isto me faz querer viver cada vez mais uma vida o mais natural possível. Bom, neste caso só me falta a ovelhinha... :)
Desejo a todos um fim de semana delicioso e cheio de montes de folhas para saltar!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Dar com alegria






Bordar, planear, experimentar, criar, esperar, oferecer, sorrir.
Que melhor há do que isto, do que estes momentos em que o coração se enche de alegria, em que as mãos andam de lá para cá a tentar fazer o que vai na alma para encher outra alma de bem-estar e de bem querer? Certamente, poucas coisas darão mais prazer do que isto. Certamente Deus, que colocou em nós estes pequenos grandes nadas para nos encherem a vida, também se alegrará com a partilha.
Obrigada meu Deus, porque nos deste dons e amigos para dividir e multiplicar a vida!


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Eu, de mim própria








Bem sei que não é possível, mas às vezes gostaria que todos os dias fossem iguais, quando se trata daqueles dias em que acordamos bem dispostos, optimistas e com fé para acreditar que tudo é possível.
Mas não é assim que funciona... Grunf.
Então, como não é assim que funciona, para mim, o truque está em abrandar o ritmo, sossegar para recarregar a bateria. São muitas as coisas a pensar, a decidir. E a única conclusão a que chego é que sou mesmo uma outsider, que nado contra a corrente, que não compreendo este mundo e como retorno, este mundo não me compreende. Não estou com isto a fazer-me de vítima e não é que isso me incomode por aí além, apenas preciso de sentir dentro de mim a segurança das minhas decisões. E é nesse ponto que eu vacilo sempre: segurança. É assunto a trabalhar em mim, desde sempre e, pelos vistos, para sempre...
Mas enfim, enquanto busco dentro de mim e fora de mim essa segurança para seguir em frente, só aquietada conseguirei ouvir o meu coração. Assim, cada uma destas imagens reflecte aquilo que sou e o que realmente me faz bem. Prezo por demais estes momentos em que as minhas mãos trabalham. Os momentos em que passo tempo com a minha carracinha a ouvir música e a fazer as nossas coisinhas juntos e em sossego, e adoro quando ele me pede para deixar o fio de lã entre os dedos dos pés porque faz cóceguinhas boas enquanto eu o vou puxando ao ritmo do trabalho. Preparar um chocolate quente com um sabor um pouco diferente, no conforto da casa e da noite, também proporciona momentos de prazer, de quietude, de sossego e paz envolvente. Sair com ele e trazer dos nossos passeios folhas caídas das árvores para fazer grinaldas outonais, é outra das coisas que me encanta, porque acumula às memórias que já temos, pedaços visíveis e duradouros que trazemos para casa. 
Todos estes são momentos que ficam parados no tempo do coração, que nos aquietam e mostram o que nos satisfaz, que nos mostram o que realmente somos e quando vamos contra isso, percebemos o quanto isso nos violenta e destrói pouco a pouco. 
Que bom seria se todos os dias fossem iguais em optimismo...

sábado, 14 de novembro de 2015

E mais uma vez o mundo pára... e uma receita para animar









E de repente volta com mais força a sensação de insegurança, a certeza de que nada somos neste mundo, a convicção de que nada valem tantas mesquinhices entre uns e outros porque de repente tudo pode acabar, a vida pode acabar pelas mãos de qualquer um que assim o decida na sua mente. É terrível. Mas de olhos postos em Paris e noutros lugares semelhantes, onde o total desamor predomina, podemos construir um eu melhor a partir do pior dos outros e podemos decidir já acolher o belo e o feliz, o simples e o útil. 
Mesmo sem ataques terroristas, é assim que tento viver, mas também sei que tenho falhado e muito. Por isso, nunca é demais dizer que hoje é o dia perfeito para olhar para uma flor sob a luz do sol, para abraçar alguém e sentir o calor desse gesto, para beijar alguém com ternura, para passear a pé pelo campo ou pela calçada de uma rua velhinha, para agradecer o dia de hoje, para celebrar o que temos e o que somos que, longe de ser a perfeição que desejaríamos, já é muito mais do que quem está a viver directamente as consequências do ataque terrorista da noite passada, pode celebrar.
E é por isso que vem completamente a propósito mostrar aqui algo que me deu tanto prazer fazer e mais prazer ainda, saborear! :) A minha primeira granola caseira tirada do blog da Constança. Hoje é o dia perfeito para relembrar o conforto da casa no calor do forno, os cheiros das sementes misturadas e do mel caseiro, do aroma a torrado a invadir a cozinha e da vista do frasco grande com a minha granolinha já acondicionada, na bancada de mármore. E depois, pelos dias seguintes, ir comendo com o também iogurte caseiro (desta vez sem iogurteira - adorei a experiência!) ou com Cérelac (por favor, não digam a ninguém que eu de vez em quando tenho umas gulas incontroláveis por Cérelac) ou então, comer assim seco, à mão cheia. Ena, que bom!
Portanto, hoje é o dia perfeito para acalentar no coração todas estas coisas simples mas de efeito eterno, todos estes gestos significativos de vida de amor, que levam amor aonde passam.
Desejo um fim de semana cheio de amor e da certeza desse amor para todos, dentro de todos.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Versos que podiam ser meus...












Sopra o vento, sopra o vento,
Sopra alto o vento lá fora;
Mas também meu pensamento
Tem um vento que o devora.
Há uma íntima intenção
Que tumultua em meu ser
E faz do meu coração
O que um vento quer varrer


Extracto de “Poemas ao Vento” de Fernando Pessoa 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Que seria de nós sem as nossas paixões?









Eu acredito que cada um de nós, independentemente da idade, estilo de vida, nível social, género, profissão, etc., tem dentro de si um dom. Talvez esteja aqui a elevar a fasquia ao chamar-lhe dom, mas creio mesmo que todos temos dentro de nós algo que gostemos de fazer e que, mesmo insignificante para a maioria, dá ao nosso coração o estatuto de dom, tal o prazer e elevação que encontramos ao fazê-lo. Aqui, as possibilidades são imensas, tão imensas como cada ser humano, único na sua capacidade de produzir algo original, ainda que tenha copiado a ideia de outro lado.
E é isso, a que eu chamo paixão, que funciona em nós como uma terapia, com poder curativo, com poder sanador e pacificador de pedaços da vida mais inquietos.
Por exemplo, pode dizer-se que as minhas maiores paixões são ler, escrever, bordar ponto cruz e fazer crochet. São aquele tipo de coisas que posso carregar para qualquer lado e ao pegar nelas, me proporcionam momentos de evasão sublime. Quantas vezes me pego no meio de uma situação complicada e de repente me vem à mente aquela manta que tenho de continuar, ou aquela leitura inspiradora que tenho de terminar, ou aquele projecto que tenho em mente executar e logo nessa hora o meu coração se dilata de doçura.
Isso acontece porque nessas alturas, nos momentos em que executamos algo que amamos, as nossas mãos têm a noção de estarem a criar o belo e algo único que vai dar um toque especial à nossa vida ou à vida de alguém. Foi o que aconteceu ao decorar esta simples garrafinha de licor ou aproveitar esta velha porta de uma coelheira para decorar o quarto. A garrafinha faz o meu orgulho ao servir uma bebida também feita por mim, a alguém amigo, arrancando exclamações bonitas relativas à rendinha aplicada. Já a porta envolveu a colocação de uma prateleira pelo homem da casa, a sua pintura pelas minhas mãos e a exposição de objectos cheios de significado para mim, de amigas do peito.
Isto move o meu coração e move a minha vida na direcção do prazer, como um refúgio no meio do caos que muitas vezes vivemos. Por isso, por muitas que sejam as dores, sejam elas físicas ou emocionais, é de todo vital seguir em frente com as nossas paixões, porque além de terapêuticas, criam sempre algo lindo.


domingo, 8 de novembro de 2015

Os nossos Santos







Viver ao ritmo das estações significa não apenas olhar lá para fora e perceber que as cores e os cheiros são diferentes, ou que a temperatura mudou, ou que os produtos na horta são de outra variedade. Viver ao ritmo das estações implica também viver ao ritmo dos afazeres que a época em questão requer, bem como voltar, ano após ano, às mesmas conversas, às mesmas histórias contadas às vezes já com contornos um pouco diferentes porque afinal, quem conta um conto, aumenta um ponto.
Por exemplo, chegamos a Novembro e recebemos com celebração o Dia de Todos os Santos. 
Faz hoje uma semana que os cemitérios se encheram de gente e de flores, a vida a homenagear a morte, já que ambas são o mais natural e certo que temos; alguns tentavam a sua sorte montando banquinhas para vender flores à porta dos cemitérios, não fosse algum visitante mais esquecido aparecer. E as casas encheram as suas mesas com as iguarias da estação e com os tradicionais bolinhos repletos de frutos secos e especiarias. E sabia bem passar pelas ruas com cheirinho a erva doce, trazendo a doce recordação dos tempos antigos, em que as crianças saíam em rancho e de saco na mão a pedir o bolinho de porta em porta. Hoje, já raramente se vêem esses meninos, tendo sido substituída a nossa tradição pela americana :(. Nada contra as tradições dos outros países, mas há que honrar o que é seu e por isso, muito mais do que o "doçura ou travessura", eu prefiro o nosso "bolinho, bolinho, à porta do santinho!" :)
E à mesa por esta altura, fala-se também da apanha da azeitona e qual o lagar que está a fundir melhor, e quantos sacos deu este e deu aquele e fala-se também das tradições que se perderam e que tornavam tudo mais saboroso. Ouvem-se histórias contadas pelos mais velhos, histórias que nos levam para um tempo em que a vida se fazia de uma forma dura mas mais pura e que nos fazem ansiar por voltar lá mas com o conhecimento do hoje, numa tentativa de voltar às origens, à auto-subsistência, à sustentabilidade, ao aproveitamento de todos os recursos da natureza. Fala-se do S. Martinho que aí vem, do Verão que sempre o acompanha, do ir à adega e provar o vinho, do assar das castanhas e mais uma vez, das histórias antigas que são partilhadas. 
E é assim nesta estação, que nos leva a procurar o abrigo da casa cada dia mais cedo, porque mais cedo o sol vai espreitar o outro lado do mundo, que à volta de uma mesa e de uma lareira se faz a vida. De ouvidos à escuta e de mãos ocupadas, se faz a vida. E neste dia dos mortos, se fez a vida.