segunda-feira, 27 de abril de 2015

Amor - o mais belo sentimento


«Se amarem alguém, digam que amam. Partilhem o vosso conforto por saber que aquela vida e a vossa vida têm um lugar de encontro. Digam a vossa gratidão. O vosso contentamento. A festa que acontece dentro de vocês de todas as vezes que se lembram que aquela pessoa existe. E se for muito difícil dizer com palavras, digam de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Preparem surpresas. Bordem delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugurem gestos de companheirismo. Mas, não deixem para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá...»
Ana Jácomo

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Pensamentos da Primavera













Com a chegada da Primavera e apesar do tempo instável próprio destes meses, a explosão de cores, formas e vida acontecem sem pedir licença. E com tamanha explosão, é inevitável que o mesmo ocorra dentro de nós. Há um burburinho no corpo que nos impele lá para fora, para buscar o ar e o sol e viver o exterior com gratidão e alegria.
Nesta vida de campo, acompanhando as estações, muitas são sempre as novidades a descobrir. Desde que me inseri mais a sério nesta vida da terra que a minha cabeça não pára e o coração deleita-se diante das possibilidades a aprender e a viver.
Senão vejamos. Vivo agora a agricultura. Muito tenho aprendido pelo privilégio de ter ao meu lado um professor experiente e amante desta arte. Pela prática intensiva desta actividade, lenta tem sido a minha aprendizagem, mas de si tão grandiosa e significativa que já ocupa boa parte do tempo, da mente e do coração. Estamos a viver o primeiro ano de agricultura intensiva e por isso mesmo, um ano de experiências, de adaptação ao terreno, de novos planos para o próximo ano decorrentes da experiência deste ano e assim será pelos vindouros.
Num futuro próximo, a estar já adaptada a este meio, confortável no meu saber e produção, vejo-me perfeitamente a viver um estilo de vida cada vez mais auto-suficiente e sustentável. Porque no campo, as opções são tantas, tantas! 
Por exemplo, adoraria ter ovelhas e retirar delas o leite para fazer queijo e manteiga de forma tradicional. E retirar também a lã para aprender todo o processo desde a tosquia até ao novelo!
Adoraria semear linho para aprender a fiar e a tecer em tear manual!
Adoraria semear trigo para colher, moer na minha moagem e fazer pão caseiro no forno feito de telha de barro antigo, pão com um sabor único!
Adoraria construir colmeias para aprender mais sobre a vida das abelhas e aproveitar delas o mel!
Adoraria cultivar o vime para fazer cestos e mais cestos, cestos que adoro para carregar os produtos da horta, os frutos, as flores, pousar a roupa passada a ferro!
Adoraria ter um cantinho para a minha oficina de olaria, porque terra boa para moldar eu já tenho!
Meu Deus, são tantas as possibilidades. E é tão bom saber que todas elas existem e que estão ao alcance de as planear e tentar, pelo menos tentar, concretizar alguma.
Mas por enquanto vivo a agricultura. Por opção. Por amor. E o resultado é já tão compensador, que o coração fica cheio e a existência transborda de vida.
Prova da mudança é que eu, que nem gosto do Verão, este ano estou ansiosa que ele chegue para ver o resultado das nossas plantações e fazer todas as coisas que tenho planeadas com esse resultado. Enquanto isso vou sonhando, sonhando com tudo isto que partilhei aqui e que move os meus dias. E ainda que concretize apenas um pouco disso, é neste mundo que me movo e faz de mim a pessoa que sou hoje.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Às vezes abrando...









Há momentos em que preciso de me abstrair do trabalho e usufruir o momento. O trabalho não faz sentido se não percebermos o nosso lugar na vida e no lugar em que estamos. Para isso é preciso parar. E eu paro. Algumas vezes. Preciso sentir, observar, cheirar, ouvir. Preciso ouvir o coração e seguir o caminho. 
Neste dia, passeei por ali bem perto. Poucos passos bastaram para eu me abstrair e entrar na dimensão que precisava. Ver como a natureza vence, é um privilégio. Ver como, depois de tantos e tantos anos de abandono, uma macieira, mesmo praticamente toda cinzenta de velhice e desprezo, insiste em dar flor e depois maçãs, ainda que poucas. Ver como, no meio de espinhos, arbustos e árvores sobrevivem em condições pouco dignas, mas ainda assim continuam a fazer aquilo para o qual nasceram. Uma árvore nasce humilde, sempre do chão, mas morre com toda a dignidade, sempre de pé. E eu suspiro...
Caminho, apanho algumas flores dos arbustos para enfeitar a jarra em casa e acaricio a superfície da erva que balança com o vento. E tantas coisas me vêm à mente, enquanto vou encaixando as peças do puzzle que se formou dentro de mim.
Fico muito triste, sem compreender, como é que alguém consegue ainda desprezar o trabalho da terra e retirar dignidade àquele que cuida dela. Fico triste com quem se julga superior por ter um emprego de secretária ou "limpo", no meio de papéis. Será que não entende que o que come, da terra vem? Nem que o coma cheio de químicos, da terra vem? E se não comer, não vive.
Assim volto ao trabalho. Restabelecida, feliz, cheia. Admiro tudo à minha volta e dou graças pelo que já construímos no cima daquele pedaço de terra que chamamos nosso, para frutificar. 
E mais uma vez, no fim do dia, a viagem de regresso faz-se de inúmeras ideias e planos que vão surgindo. Porque o caminho faz-se caminhando. E assim se escreve uma nova frase na nuvem feliz da porta da despensa da cozinha.

sábado, 18 de abril de 2015

Temos um carvalho










Temos um carvalho que está a crescer, num sítio estratégico para o qual já temos tantos planos. Não sei porquê mas, desde pequena que admiro a imponência dos carvalhos. E este resistiu a anos de abandono e desprezo para se mostrar agora a crescer na sua glória. 
Hoje fomos abençoados com chuva. Tão necessária para regar as plantações. Lindo, quase podíamos ver as batateiras a rirem com tamanha alegria.
Quem disse que a vida no campo era monótona? Errou profundamente. A vida do campo é viver um dia de cada vez, sempre na espera do que ele reserva a cada nascer do sol. E nenhum é igual ao anterior. Viver do campo é depender das condições do tempo, que nem sempre são favoráveis. E este ano tem sido especialmente seco para a época, o que afecta todas as culturas e o seu crescimento. Relembrando que a água é um bem sem preço. Quem a tem, que faça bom uso dela. Porque quem não a tem, vive na ânsia de a possuir para poder viver e dar vida. 
Nisto temos a certeza de que não mandamos em nada, muito menos no tempo. E hoje, rodeados de nuvens carregadas de água e electricidade, trabalhávamos com afinco e gratidão pela água que estava prestes a cair do céu. Os trovões que passaram ao largo não nos afectaram. Continuámos até a chuva quase nos ensopar. Para mim, ter trabalhado ao som dos trovões foi um embalo constante no meu louvor a Deus, certa da Sua grandeza e do Seu poder, da Sua magnanimidade e da Sua misericórdia, do Seu amor e da Sua direcção.
Não ambiciono mais que isto, mais do que esta vida quieta de aprender a trabalhar a terra e aprender a ser o mais auto-suficiente possível nas mais diversas áreas da vida. Viver é um aprender constante.
E chegar a casa cansada, mas com alegria para fazer um arranjo com as flores que o campo dá, é a recompensa mais que perfeita para um dia perfeito.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Por estes dias














Estes dias têm sido feitos de sol, calor, flores, borboletas e trabalho, muito trabalho. 
A nossa estufa está quase terminada e nela já se encontram muitas sementes germinadas, aconchegadas no abrigo que construímos. Não está perfeita, talvez nem esteja bonita, mas tem o valor que lhe atribuímos e esse, é digno de um verdadeiro tesouro.
A terra está limpa, revestida de muitas plantas que darão o seu fruto no tempo certo, sem injecções, sem ajudas ao crescimento, apenas dependentes das condições do tempo e do nosso cuidado. É assim que queremos que seja porque é assim que vivemos. E o que produzimos, é o que comemos.
A tarde cai, tingindo o céu de laranjas e cinzentos misturados num tom de tempo incerto, mas lindo. Ficamos até não se ver mais. Ficamos até ser necessário vestir um casaco porque a noite já trouxe consigo o fresco, apesar dos dias serem quentes. Por vezes vemos a lua, por vezes não vemos. Mas as conversas na viagem de volta a casa são sempre feitas na segurança de quem está a viver o que gosta e o que sabe que é certo. 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Passeio de Domingo














Na família grande à qual vim pertencer não faltam motivos para reuniões à mesa que se estendem pela tarde fora. Domingo de Pascoela, um dia soalheiro e de temperatura amena, foi mais um pretexto para um almoço e conversas no jardim cheio de flores, e também para passeios a pé pelas redondezas. Há tempos que estávamos para ir até ao rio, descendo o vale e apreciando a paisagem. Pois foi só lançar o desafio às duas crianças, que mais depressa nos pusemos ao caminho do que o tempo que levou a pronunciar as palavras "vamos?". Passear a pé é um refrigério. Foi um percurso longo, mas lento, pleno de descobertas, admirações, sonhos, deleites, brincadeiras e cansaço. Porque, se a descer a coisa vai bem, a subida já é mais penosa. Mas que bem eu aprecio estes momentos sem pressa, de coração aberto e mente desperta para entender os mistérios da vida. Mistérios que me têm espicaçado a minha cabeça em turbilhão, a minha alma inquieta e o meu coração ansioso por respostas, tendo ele saído da sua zona de conforto. Enfim, só me resta uma solução, que é continuar a entregar o meu caminho a Deus, confiando que Ele proverá. Muitas são as angústias e as questões ao longo do percurso, mas em cada estação há uma resposta, em cada paragem há uma direcção, em cada entroncamento um encontro. E no fim, que acabemos junto à água, fonte de vida, a atirar pedrinhas como crianças, contando os saltinhos que as tentamos fazer dar por sobre a superfície.