quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A nossa tarde

Sempre que possível, é tão bom sentar na varanda e olhar o pedaço de campo que temos lá atrás. O sol brilha, tornando dourada a erva seca cortada rente. As sombras das árvores vão-se deitando à medida que o sol desce e de vez em quando, passa alguém de bicicleta pelo caminho de terra batida no meio do terreno. E de repente, parece que não moro no 3º andar, que não há doenças nem desavenças, não há morte nem vidas mal vividas, enfim, parece que tudo encaixa no seu devido lugar de forma perfeita. E talvez encaixe... A imperfeição faz parte da perfeição.

Sempre que possível, é bom trincar maçãs frescas com calma, sentindo o sabor e a textura da fruta e fechar os olhos, agradecendo.

E ir ao sogrinho. Quando chegámos, estava a fazer café, o café assustado, como ele tão bem explica, erguendo as sobrancelhas, como quem diz: é assim que deve ser! É tão antigo, este recipiente do café, já encardido nas bordas de tanto uso.



Enquanto o café se assusta com a água fria, a minha riqueza brinca com os carrinhos que já foram do pai. A avó guardou-os sempre muito bem guardados, resistindo a muitas mudanças, a muitas aventuras e desventuras da vida, à espero do neto que viria e iria brincar com eles com a mesma idade que o filho tinha na altura. E assim é.

Lá fora, fomos espreitar a leira já preparada para receber os grelos de nabo que havemos de comer no Natal! Assim espero. Porque todos os anos eles conhecem aquela terra, mas nunca chegam a crescer o suficiente até ao Natal. E depois é a típica corrida do sogrinho até ao mercado, porque não podem faltar os grelinhos na consoada ou no dia de Natal.

"Mamã, apanhas-me flores? É que eu gosto tanto de flores..." Toma lá, filhinho.

Deixadas as flores enfiadas no tronco de uma oliveira, hora de pesquisar com muito afinco a erva rasteira. Que curiosa eu estava. O afinco era real, eu é que não entendia porquê. É que ele, sabe-se lá como, descobriu ali uma pequena traça e apanhou-a.

E também apanhou o gafanhoto. Bem que ele se tenta disfarçar por entre a folhagem, mas não resiste aos olhos de águia da minha riqueza, que come muitas cenourinhas para fazer os olhos bonitos, e já está dentro de uma caixa de plástico com umas couvinhas para ele comer. Muito provavelmente, amanhã irá encontrá-lo com as perninhas esticadas, mas é bom "cuidar" dos animais e assim conhecê-los. Eu também era assim. Apanhava imensos bichos, metia-os em caixinhas e ficava horas a observá-los.

E depois sentar no sofá velho cá fora e ficar a observar a paisagem. O brilho do sol é tão bonito. E a temperatura estava tão boa...
Descobrir a vida nestes pequenos prazeres faz-nos ficar despertos para aprender.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Outono dentro de portas




Os dias já são mais curtos e as manhãs e tardes mais frescas. O azul do céu é mais intenso e o ar, quanto a mim, mais puro. Sabe bem inspirar com intensidade e deixar encher os pulmões do ar que renova.
Já tivemos de pôr o edredon na cama. E que bem que sabe esse aconchego durante a noite. Estava indecisa. Tendo de lavar a capa em tons de amarelo, punha a branca ou a de riscas azuis? Optei pela cor, sei lá porquê. Mas pareceu-me bem. Com a carraçita sempre em cima de mim, estava a ver que não conseguia colocá-la. É sempre assim: cada vez que quero fazer a cama de lavado, é exactamente nessas alturas que ele resolve saltar lá para cima e fazer de tudo para me impossibilitar a tarefa. Tenho de acabar a rir, pois claro. Vence-me pelo cansaço.
Mas ainda mantemos os lençóis de Verão, bordados. Adoro os meus lençóis de Verão, todos eles. Não tenho nenhum novo. Todos fazem parte de ofertas que foram enchendo a minha arca do enxoval ao longo dos anos. Como tal, todos eles têm para cima de 2o anos, e estou a ser boazinha! Mas duram, bonitos como da primeira vez.
É bom o aconchego do lar...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Festival de Estátuas Vivas - minha falha



De certeza que o Sr. António Santos não é visitante do meu blogue. Se fosse, não me perdoaria esta!
Só há pouco me lembrei que não coloquei aqui as fotos dele. Imperdoável. Perdão, Sr. Estátua Mágico.
Este era o convidado especial e o tema era livre. O senhor estava numa pose suspensa, o que muito surpreendeu tudo e todos que por lá passaram. Por trás estavam as escadas da Câmara e sentámo-nos ali a lanchar e a observar as diferentes reacções. Todos estupefactos, não compreendiam como aquilo era possível. Houve uma criança que foi passar as mãos por baixo dos pés dele, não fosse ali haver algum apoio invisível. Espelhos, quem sabe?, um dos truques mais utilizados no ilusionismo. Era giro de ver.
Não quero quebrar o encanto de quem quer que por aqui passe e veja estas fotos. Quanto a mim, só posso dizer que me deu algum jeito ver o programa "Os Segredos da Magia" para decifrar o mistério. E garanto-vos que, na minha opinião, aquela era a estátua mais descansada que por lá estava.

domingo, 26 de setembro de 2010

Lufada de ar fresco

Ontem tive uma manhã tão abençoada. A nossa riqueza brindou-nos logo pela manhã com um Festival de Estátuas Vivas Caseiro. Lindo! A seguir saímos os três e depois de entregar o meu trabalho, como o sol estava com uma luz límpida e o ar estava fresco, estava mesmo a apetecer dar uma voltinha. E não é que me revigorou? Fez com que os meus anoiteceres se transformassem em amanheceres, com novas promessas de força e boas perspectivas. Que bom é renascer.

A ideia era ir comprar flores ao mercado, mas passámos primeiro pelo Café do Rio, onde eu nunca tinha ido, nem quando este era o Texas, assim chamado por ser uma tasca cujas portas abriam como os típicos saloons. Agora é o Café do Rio, mesmo à entrada da Ponte Velha. Adorei. Estava-se bem.



Antes de ir às flores, a ideia também era ir a uma sapataria pedir uma caixa de sapatos, para a carraçita pôr o seu "hamster". Sim, isto azul é um hamster. Eu sei que não parece, mas não lhe digam nada... A verdade é que, chegado a casa, foi arranjar-lhe um escorrega, uma caminha e dar-lhe água.

Fui sozinha comprar as flores. A riqueza e o pai ficaram ao pé do rio, a andar pelo muro, a passar por entre os ramos das árvores, a ver os bichos e tudo o mais que passa a existir só porque uma criança está ali.

Tenho-me apercebido que, por onde quer que andemos nesta cidade, o castelo persegue-nos. É só olhar o horizonte, e lá ao fundo, lá está ele. É, de facto, uma constante.



Chegados a casa, hora de distribuir as flores pelas jarras. Eram tantas! E flores criadas no campo, que se prezem, têm de vir acompanhadas de bichos. Oh pra este aqui tão lindo. A minha riqueza entrou em histeria. Só não o adoptou e dormiu com ele na cama porque eu não deixei!

Esta semana tenho flores por todo o lado. Na casa-de-banho...

No parapeito da sala...

Na mesa da sala, a desafiar a gravidade...

Na mesa da cozinha... E também houve mais para pôr na entrada e no quarto. Pena serem da mesma qualidade, mas o seu aspecto delicado dá um toque suave pela casa toda.

À tarde a carraçinha dormiu a sesta, o que já não é um hábito. Que silêncio... Lanchei descansada e pude pensar em coisas que têm de ser reorganizadas. Mas deliciei-me com esta bola. O preço das bolas é um escândalo, mas a verdade é que estas são uma delícia. Acho que era capaz de comer meia dúzia seguidas! Restaurador. Uma pausa no cinzento destes últimos dias. Obrigada.

sábado, 25 de setembro de 2010

Anoitecer II

Vi tantas flores do campo nesta semana de trabalho. Lindas. Achei-as mais belas esta semana, talvez porque os meus dias sejam de anoiteceres, ultimamente. Não fotografei nenhuma, não apanhei nenhuma com medo que secasse dentro do carro devido ao calor. Mas guardei na memória estes pequenos grandes apontamentos de cor para não esquecer que o entardecer tem os seus frutos.
A seguir vem a noite. A noite pode ser cheia de medos e angústias, lágrimas e desencantos, mas o descanso vem com tudo isso, porque nunca nos é dado mais do que aquilo que conseguimos suportar. E finalmente amanhece, um novo dia a começar, pleno de aprendizagens e com elas, o crescimento. Todos os amanheceres são assim: promessas de vida plena. Com avanços, com recuos, mas sempre em direcção ao alvo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Anoitecer I

Quando a noite chega e o frio é cortante até fazer chorar, nada há melhor do que ficar aconchegado nos braços do Pai e receber da Sua mão afagos nos cabelos, dos Seus braços o aperto morno, da Sua boca palavras meigas de consolo e do Seu coração o batimento forte e constante de quem não vai parar de nos amar nunca.
Quem sabe que pode sentir isto, nunca desista. Quem não sabe mas quer sentir, busque. A todos desejo a paz que excede todo o nosso entendimento.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Mais estátuas vivas

Cu cu!
Cá estou eu novamente, para mostrar mais fotos do Festival de Estátuas Vivas, que ocorreu este fim-de-semana, em Tomar. É bom partilhar bons momentos. Espero que estejam confortáveis, tal como ontem.

Hoje continuamos pela Praça da República, onde havia um quiosque cheiinho de balões à espera das crianças. Daqueles que voam! E eu sempre adorei balões que voam. Para mim significavam magia, como era aquilo possível? E não sou só eu que sente esta atracção...

A minha riqueza também não lhes resiste. Deixou fugir o primeiro... OOOOHHHH!!!!!!!!


Mas depressa fomos buscar um, que quem os oferecia, estava ansioso de ver as crianças felizes. Nunca mais o largou, agarrando-se a ele quase como à própria vida. As primas e a colega das primas também tinham um. Era uma confusão de balões à nossa volta... E lá fomos nós, vendo as estátuas.

D. Gualdim Pais, o fundador da nossa cidade e D. Manuel I.



D. Ângela Tamagnini.

E rumo ao castelo, passou por nós um casal. A senhora abordou-me, meio curiosa: "Está a passar-se alguma coisa aqui na cidade?" Eu quase fiquei escandalizada. Como era possível não saber?! Mas claro, com boa educação respondi-lhe: "Sim, é o Festival de Estátuas Vivas." "Ah, e elas passam por aqui?" Rio tanto quando recordo esta parte! Mas continuei, obviamente educada: "Não, minha senhora, nós é que temos de ir ter com elas. São estátuas." "Ai, então temos de ir ver isso. Obrigada." E foi-se embora, toda animada. É engraçado como nós às vezes nem nos apercebemos do que dizemos, não é?


Um Templário à entrada do Castelo.

A minha incapacidade para resistir a imagens que vejo e capto desde criança e das quais nunca me canso.


O Infante D. Henrique, que por sinal é espanhol. Ouvimo-lo falar no final, quando estávamos a ir embora porque, no meio de tanta excitação, nem demos por ele. Imperdoável, mas ele apercebeu-se da nossa frustração e posou de propósito para nós e tirou foto com as crianças. Um Infante espanhol à séria.

Um Freire da Ordem de Cristo, aqui com música conventual a acompanhar o momento.


D. Filipe I (II de Espanha).



Continuo sem resistir.


E por último, o nosso Luís de Camões que, entre momentos estáticos, ia recitando poesia. Muitos aplausos, muitas moedas, muitas fotos, muitos agradecimentos, ele foi sem dúvida, uma estátua muito interactiva! Talvez não fosse suposto, mas ele era verdadeiramente simpático.


Luís de Camões estava mesmo aqui ao lado do nosso ex-libris. Fantástico.

E nós continuámos a nossa deambulação, depois de votarmos nas nossas estátuas preferidas. O vencedor iria ser anunciado no final da tarde de Domingo. Indecisas, a mana e eu tirámos dois papeis de voto cada uma. Num, ela votou no Camões e eu no Marquês de Pombal. Noutro, ela votou no Marquês de Pombal e eu no Camões. Somos irmãs, ou não somos?



As portas estavam a fechar-se. As urnas também já tinham fechado. As estátuas iam para a Praça da República ouvir o anúncio da vencedora. E nós não queríamos perder pitada.
Em terceiro lugar ficou o nosso Marquês de Pombal.
Em segundo lugar ficou Fernando Pessoa.
And the winner was... Luís de Camões!!!!!!!!
Lindo. Gostei. Foi bem merecido.
Ainda nos brindaram com mais três minutos de estátuas, findos os quais a organização soltou uma sonora música bem ritmada e aí é que foi pular. As estátuas tiraram a barriguinha de misérias destes dois dias de grande imobilidade.
A repetir.
Espero que para o ano apareçam todos os que visitaram este Festival e todos os outros que não puderam vir!
Beijos!