domingo, 31 de agosto de 2014

Esta semana

















Quando se diz que o mais difícil não é começar mas sim continuar, eu acredito. Mas a verdade também é que, neste caso, o começo está a ser bem difícil. Vale-nos a perseverança e o sabermos o que queremos para não desanimar e enfrentar todas as burocracias, impedimentos e trabalho que nos tem aparecido pela frente. E é no meio disto tudo que vou tirando estas fotos. Sempre adorei registar momentos e eternizá-los com uma máquina. Mas nesta situação esse gosto assume um papel ainda mais importante: o de manter o foco e o espírito. Para que eu nunca perca esta capacidade de me encantar como uma criança diante da natureza. Para que, quando o trabalho já for rotina e canseira, eu possa ser sempre agradecida pelos cardos, que eram utilizados pelas nossas avós para coalhar o leite para fazer os queijos. Para que eu nunca perca este sentido de aproveitamento do que a natureza nos dá para os mais variados fins, sendo exemplo disso neste post a apanha destas amoras tão docinhas para fazer compotas e licores, e quando já não houver mais ideias ou vontade, congelar para fazer sobremesas ao longo do ano. Para que eu nunca perca o êxtase que me provoca um céu em fogo a despedir-se do dia e a abrir os braços para a noite. Quando tudo for trabalho e canseira, que tudo isto e muito mais seja a força impulsionadora que faça tudo valer a pena!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Não há festa como esta









É o que dizem todos os habitantes de todas as aldeias por este país fora nesta altura do ano. Verão (ainda que com crises de identidade, de certeza) é sinónimo de festas e romarias. Não há semana nem aldeia sem festa e nestes dias foi a nossa vez de fazer a festa na festa, de juntar a família e preparar tudo para que a reunião se realizasse no espírito festivo que convém: muita comida, bebidas, mesa enorme, conversas animadas, crianças felizes, muita louça por lavar, mas também muita entreajuda. As sobremesas ficaram todas a cargo do meu padeiro agricultor e foi a assisti-lo que a festa começou para mim, num fim de tarde cansativo mas sereno. A expectativa das crianças e o ajuntamento da família que ia chegando . alguns bem barulhentos na sua entrada triunfal numa velha zúndapp pintada a pincel -, as animadas partidas de matrecos enquanto se esperava pelo próximo prato, os degraus calcorreados vezes sem conta entre a sala e a cozinha velha, uma animação reunida ao longo de quase 5 metros de mesa e ao longo de um fim de semana bem preenchido. E a festa fez-se no largo da igreja, com os habituais conjuntos musicais a animarem a noite e a quermesse pronta a satisfazer os ávidos de experimentar a sorte nas rifas - eu fui a primeira a levantar o dedo! - vencendo o frio e o cansaço, lembrando os meus 16 anos mas também lembrando que já não os tenho... E viva a festa|

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Alguns caminhos só serão encontrados se nos perdermos



Há sustos que nos trocam as voltas. Não nos afastam do caminho, mas levam-nos a fazer um pequeno desvio. E é ao fazer esse desvio que descobrimos uma paisagem melhor e mais bonita, uma fonte de água fresca e um velho banco de madeira à sombra de uma árvore frondosa, talvez para descansar. E perguntamo-nos: "Quem diria? Este é o lado B do sonho, mas na sua forma mais enriquecida." E se por um acaso no caminho houver mais um desvio que nos leve ao lado C, sem dramas, todos os lados até ao fim do alfabeto são parte da viagem e da bagagem enriquecedora que carregamos.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Um navio está seguro no porto, mas não é para isso que os navios são construídos




E o que tem isso a ver com as fotos destas flores? Nada... Apenas significa que as flores do campo estão ao meu alcance e que estou demasiado longe do mar para fotografar navios :). Significa que as flores são o que eu vivo, mas os navios neste pensamento são o que me identifica com a força e persistência necessárias para não desanimar e desistir. Se um navio está seguro no porto mas não foi para isso que ele foi projectado, não quer dizer apenas que, ao termos um sonho, ao sabermos o que queremos, temos de sair da nossa zona de conforto e ir à luta. Não. Muito mais significa que, depois de começar, há que permanecer! Permanecer. Porque não foi apenas para nascer que fomos projectados. Nascemos para viver e é na vivência de cada um que cada um se destaca... E ao nascer um sonho, ao conseguir a proeza de pôr em prática um sonho, há que ter a coragem para permanecer. Muitas são as contrariedades da vida, muitos são os nãos, como já referi aqui, muitas são as provas. E somos levados a pensar que nada é por nós, que estão todos contra nós, que não há facilidades nunca, que tudo mas tudo mesmo é difícil, que só lá chega quem tem dinheiro ou "padrinhos". Sim, tudo isso pode ser verdade, mas tudo isso são testes à nossa determinação. Permanecer é a ordem. Leve o tempo que levar. Tudo tem o seu tempo próprio para acontecer. Nada vai desviar do seu caminho o que está feito para vir na nossa direcção. Por isso, descansemos no porto seguro enquanto é tempo de descansar para recarregar energias, mas nunca esqueçamos que foi para navegar e aprender orientação e enfrentar tempestades e relaxar no mar calmo e usufruir de tudo o que a viagem nos preparar, que fomos construídos. Rumo ao alvo, mantendo o foco, com calma mas com consistência. E um dia chegaremos lá!

sábado, 16 de agosto de 2014

Esta tarde e as outras também
















Os meus dias são feitos de fruta e de cor. De azul e de sol. Não do azul do mar nem do sol da praia, mas do azul do céu e do sol que queima a terra, tudo do campo, como do campo me sinto e do campo estou a aprender tudo. Os meus dias não são passados num qualquer resort, mas são feitos de apego à terra, à agua, à semente e a todos os sonhos que nascem daí. Conforme vejo tudo a crescer, cresce também a minha ânsia de conquistar aquilo que a maioria despreza e cresce a necessidade de fazer criar aquilo que a maioria compra já no supermercado, sem bem saber o que compra. É esta minha relação com o simples que me alimenta a vida e se em tudo estou atenta, também em tudo me surpreendo e me maravilho. Os meus dias são feitos de doce de todos os frutos que a natureza nos dá por aqui. Experiências, provas, resultados, projectos... Doce de ameixa, melão, pêra, maçã, curgete, amoras silvestres. Licor de ameixa, hortelã... Tudo se aproveita. Do caroço faz-se o licor, da polpa faz-se o doce, da casca faz-se a geleia. O corpo anda moído, dores novas vão aparecendo, mas alegrias maiores enchem o coração e a antecipação do gozo futuro também. Ir ao mercado toma agora outra forma. As cores e os aromas são já mais familiares, os semblantes e as peles curtidas pelo sol também, há identificação com os vendedores que vendem aquilo que produzem porque o amor à terra está presente nos rostos da maioria. Ainda que não tenham tido outra escolha na vida, a terra é o seu sustento e a sua forma de existir, o seu orgulho e a sua frustração, mas conhecem-na como poucos e por ela são abençoados. E o pulsar que começou em mim há uns anos, está agora a tomar forma. Eu, flor do campo sustentada num vaso, sinto-me agora a ser guardada para ser colocada na terra. Já sinto a frescura do vento da liberdade, já sinto a prisão da terra larga por onde vou poder multiplicar-me, já sinto a satisfação de viver aquilo para o qual fui chamada a viver neste momento da vida. E todos os medos e preocupações e doenças e pesares não são maiores do que isto. Neste Verão que mais parece Outono, é isto que vivo. O borbulhar de uma nova vida, a excitação de um primeiro amor apaixonado, a embriaguez de voltar a ter 20 anos e saber que se pode alcançar o mundo inteiro. É isto que o ter voltado às origens me trouxe. E aqui me ajoelho, em gratidão.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Apaixona-te pelo maior número de coisas possível


Só assim aguentarás os "nãos" que vais ouvir na vida e te conseguirás manter no caminho que sonhaste alcançar.

sábado, 9 de agosto de 2014

Esta tarde
















Maçãs frescas acabadas de colher, com bicho mas sem pesticidas, boas como as de antigamente, que enchiam a casa de cheiro bom e o sótão onde elas se guardavam de um odor intenso. Muito doce é feito com elas. Experiências, todas saborosas, todas com futuro. Uma lua gigante, luminosa mesmo de dia, dá vontade de entrar pelas crateras, tal como o bicho da maçã a saborear novos mundos. O sol dourado do fim de tarde inunda os campos e aquece com um calor morno envolvente. Uma galeria de antiguidades, algumas ainda com utilidade, outras com a finalidade de contar histórias de vidas. Moinhos feitos artesanalmente para marcar a cadência do vento, mãos sábias a quererem imitar a sabedoria de Deus. Um muro velho batido pelo tempo e pelos olhos e pensamentos que percorrem o campo do vizinho, que esconde conversas íntimas, que vislumbra desejos escondidos. Um pedaço de uma videira seca enleada no arame, pedaço de vida que já foi, uma história que permanece. E um tijolo com forma artística para fazer muros tão portugueses ou aquilo que a imaginação quiser e o coração desejar. Porque das mãos do homem bom saem obras boas. E porque de todas estas coisas foi feita esta tarde, este meu fim de dia comigo e com Deus e com quem de bem se cruzou no nosso caminho.