Sempre que possível, é tão bom sentar na varanda e olhar o pedaço de campo que temos lá atrás. O sol brilha, tornando dourada a erva seca cortada rente. As sombras das árvores vão-se deitando à medida que o sol desce e de vez em quando, passa alguém de bicicleta pelo caminho de terra batida no meio do terreno. E de repente, parece que não moro no 3º andar, que não há doenças nem desavenças, não há morte nem vidas mal vividas, enfim, parece que tudo encaixa no seu devido lugar de forma perfeita. E talvez encaixe... A imperfeição faz parte da perfeição.
Sempre que possível, é bom trincar maçãs frescas com calma, sentindo o sabor e a textura da fruta e fechar os olhos, agradecendo.
E ir ao sogrinho. Quando chegámos, estava a fazer café, o café assustado, como ele tão bem explica, erguendo as sobrancelhas, como quem diz: é assim que deve ser! É tão antigo, este recipiente do café, já encardido nas bordas de tanto uso.
Enquanto o café se assusta com a água fria, a minha riqueza brinca com os carrinhos que já foram do pai. A avó guardou-os sempre muito bem guardados, resistindo a muitas mudanças, a muitas aventuras e desventuras da vida, à espero do neto que viria e iria brincar com eles com a mesma idade que o filho tinha na altura. E assim é.
Lá fora, fomos espreitar a leira já preparada para receber os grelos de nabo que havemos de comer no Natal! Assim espero. Porque todos os anos eles conhecem aquela terra, mas nunca chegam a crescer o suficiente até ao Natal. E depois é a típica corrida do sogrinho até ao mercado, porque não podem faltar os grelinhos na consoada ou no dia de Natal.
"Mamã, apanhas-me flores? É que eu gosto tanto de flores..." Toma lá, filhinho.
Deixadas as flores enfiadas no tronco de uma oliveira, hora de pesquisar com muito afinco a erva rasteira. Que curiosa eu estava. O afinco era real, eu é que não entendia porquê. É que ele, sabe-se lá como, descobriu ali uma pequena traça e apanhou-a.
E também apanhou o gafanhoto. Bem que ele se tenta disfarçar por entre a folhagem, mas não resiste aos olhos de águia da minha riqueza, que come muitas cenourinhas para fazer os olhos bonitos, e já está dentro de uma caixa de plástico com umas couvinhas para ele comer. Muito provavelmente, amanhã irá encontrá-lo com as perninhas esticadas, mas é bom "cuidar" dos animais e assim conhecê-los. Eu também era assim. Apanhava imensos bichos, metia-os em caixinhas e ficava horas a observá-los.
E depois sentar no sofá velho cá fora e ficar a observar a paisagem. O brilho do sol é tão bonito. E a temperatura estava tão boa...
Descobrir a vida nestes pequenos prazeres faz-nos ficar despertos para aprender.
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