Hoje de manhã cheguei à cozinha e estranhei não ter de piscar os olhos, como sempre faço, porque a luz do sol não pede permissão para entrar e inunda tudo cá dentro. Mas hoje não. O céu parecia em chamas. O sol a nascer parecia pôr o céu em brasa.
Depois esta cor foi-se esbatendo, fazendo contraste com o azul do céu até este tomar contar de todo o horizonte e quem não viu, nunca diria que o dia começou vermelho, hoje.
E neste dia de trabalho cheio de passagens pelo campo, o que me chamou a atenção foi o carrego que as oliveiras levam. Chegam a vergar com o peso da azeitona. Lindo! Daqui a poucas semanas o meu caminho vai ser feito de desvios na estrada, porque as pessoas na apanha da azeitona nem percebem que põem as mantas e as escadas de madeira um pouco em cima do pavimento. Às vezes nem se apercebem que seria melhor varejar um pouco mais dentro do terreno, não vá algum condutor mais distraído fazer estragos.
Este ano não vou apanhar azeitona. O sogrinho mandou limpar as oliveiras e este ano mal dão para encher um alguidar de azeitonas para retalhar. Uma pena porque, pelos vistos, este ano promete tanto ou mais que o passado. Mas de uma ida ao lagar não me vou livrar. Que bom!
Já sinto o cheiro a azeite, ao virar a curva para o lagar, que fica ainda a umas boas centenas de metros da estrada principal. Cheiro a natureza, cheiro a origem, cheiro a infância, na aldeia, com a família e quem quer que se juntasse para ajudar, em dias húmidos e frios, a subir às oliveiras, a varejar, a limpar, a juntar, a dobrar mantas, a encher canecos, a andar de tractor, a conduzir para o lagar, a ver a azeitona a ser esmagada na prensa e a jorrar azeite. No lagar, amplo, havia só umas lâmpadas tremeluzentes no tecto que, naquela imensidão, davam sempre uma luz ténue. Mas o cheiro, esse, juntamente com a cor do azeite, iluminavam tudo e enchiam a alma. A minha mãe sempre me habituou a comer verduras, e eu comia, mas claro, sempre sem grande paixão. Pequenita, o meu forte eram mesmo as batatas fritas com um bom dum bife e um ovo estrelado. Mas nesta altura do ano, era eu quem pedia couves com batatas cozidas e peixe, só para sentir o sabor do azeite novo. Não havia nada melhor para lhe revelar o verdadeiro sabor do que as couves cozidas! E molhar o pão nele. Quase que morro...
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