Na outra noite

Na outra noite, o vento uivou com força durante muito tempo. E eu pensei para comigo: que bom que é estar confortavelmente em casa a ouvir a força do vento, a ver as árvores tombarem as suas copas, a ouvir as portas baterem com as correntes de ar. Parecia Inverno, mas não era. Não era, pois fui para a varanda sentir de mais perto esse vento lá fora e as janelas permaneciam abertas. Aconcheguei-me à minha primeira mantinha de crochet, determinada a fazê-la parte da história dos meus dias aqui nesta casa, e recomecei a fazer a borda da outra que está por terminar. No ritmo cadenciado da agulha e do vento, não tão cadenciado assim, mas adorável, muitos foram os pensamentos que me atravessaram. Praticamente todos bons, de crescimento, de aprendizagem, de serenidade. Isto de envelhecer pode ser muito bom. Não me venham dizer que a velhice traz tudo o que é mau e que é uma fábrica de monstros, porque eu, que ainda não cheguei lá, quero muito acreditar que pode ser diferente disso e que pode ser, essencialmente, um crescendo de sabedoria e de força interior. Quero sempre acreditar no melhor, quero sempre acreditar que é possível mudar para melhor, quero sempre acreditar que é possível fazer melhor, quero ser sempre positiva e cheia de esperança para que o vento forte não me derrube, antes me faça descansar diante dele em admiração... enroscada numa mantinha...