terça-feira, 26 de abril de 2011

O nosso feriado

Tive a ideia de reaproveitar um velho cesto de piquenique que estava a servir só para guardar tralhas velhas e para decoração e a carraçita ficou numa empolgação maior que a minha, ainda nem sei bem porquê. Começámos o dia de ontem lentamente, com o sol a entrar todo pela casa dentro e a tirar medidas, a cortar tecido e a colar. Ele dava opinião em tudo, metia o nariz em tudo, numa excitação que nunca imaginei que uma tão simples transformação pudesse causar.

Depois de forrado, queria ter dado os retoques finais, como colocar ali um bolso com o resto do pouco tecido que tinha sobrado, mas a ideia de meter o cesto em acção num piquenique no campo deitou por terra todo e qualquer projecto para embelezar o dito.

Não queríamos ir longe porque já se fazia tarde e então foi preparar os restos de comida que havia no frigorífico, transformá-los em manjar requintado de piquenique e ala que se faz tarde.
Piquenique que se preze tem de ter cestos de verga e toalhas aos quadradinhos. E a nossa é bem antiga, já do tempo da minha avó materna.

Fomos até à Barragem do Carril, ou melhor, um pouquinho antes, onde há uma ponte romana, com árvores frondosas, mesas e bancos de pedra para poder sentar e comer. Não podíamos ter escolhido melhor sítio. E o dia não podia ter estado mais bonito.

A nossa refeição não foi tomada com calma. Não, porque a carraçinha não parava. Ora porque havia uma aranha, ora porque havia uma flor, e agora era um mosquito, ali era um pau, acolá uma pedra. Tudo tinha interesse quase científico e claro, um de nós tinha de ir confirmar tudo. Mas comemos bem. Foi muito bom.

Com tudo isto, tempo para olhar para o céu e descansar foi muito pouco. Companheira fiel de aventuras, lá fui mais a carraçita explorar a área.

Sempre tive fascínio por pontes romanas, não sei bem porquê. Tento descobrir dentro de mim, e acho que este fascínio remonta ao tempo em que eu era pequenina e folheava os livros sobre Portugal e via as imagens do norte, sítio onde eu nunca tinha ido, e onde tudo me parecia tão verdejante, tão refrescante, tão antigo, e tão acolhedor.

Andámos pelo campo, apanhámos flores e até um grilo! Oh recordar da minha própria infância. Lembro-me de andar aos grilos com o meu pai. Lembro-me de ficarmos quietos à escuta, a seguir o canto deles até à toca onde eles se escondiam e lá ia o meu pai com uma palhinha fazer cóceguinhas para ele sair e assim poder apanhá-lo. E depois punhamo-lo naquelas gaiolas de plástico minúsculas, mas coloridas, à espera que ele cantasse. Era um encanto. Hoje, voltei a ter um grilo em casa. O tisoiro preocupado com os vizinhos e eu a querer dormir. É que o bicho canta que se desunha. Agora está ali caladinho, mas chega a noite e abre a goela que até dá vontade de fugir.

Ainda molhámos os pézinhos no riacho. Bom, foi mais do que os pézinhos. A carraçita tirou as calças porque cada vez se ia molhando mais, e eu não tirei as minhas porque uma senhora nunca perde a compostura, mas bem mal fiz porque me molhei toda também. Especialmente quando vimos lagostins e a carraçita trepava por mim acima num misto de medo, excitação e curiosidade.

Finalmente, já de regresso a casa, o tisoiro com flores na lapela. Foi uma tarde muito bem passada.

5 comentários:

  1. Parece imagem de filme... de cinema! que delícia! boa semana para você e obrigada pelo comentário no meu blog! bjs Zí

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  2. Parece mesmo...a Zi teve o mesmo sentimento que eu. Eu já te falei que amo seus relatos de felicidade. Amo mesmo.Como é bom saber de estórias assim. Nem preciso mais de livros para sonhar. Basta ler-te.

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  3. Que passeio maravilhoso!
    Passear por lugar tão lindo e ainda mais acompanhada do filho. Não há nada melhor!
    Gosto muito de ler sua narrativa com o português de Portugal, tão diferente do nosso e ainda assim o mesmo.
    Que vocês tenham muitos e muitos momentos como esse.

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  4. Olá Margarida.
    Relativamente à questão que deixou no Delícias & Companhia sobre os iogurtes. Eu às vezes faço tendo por base um iogurte com pedaços e dá certo na mesma :) Pode fazer à vontade. Depois diga como correu.

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  5. Minha Flor de Portugal!
    Obrigada por sua palavras sempre de acalanto.
    Amo você.
    Bjos e um feliz final de semana pra todos!

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