
Mas a história de ontem é diferente. Não fui eu a ir ter com ninguém, foi alguém a vir ter comigo. Estava eu a fazer um intervalo num dos cafés do costume e comia qualquer coisa enquanto adiantava a parte escrita do meu trabalho. Entrou um senhor no café. Um ar normal. Um pouco escuro o que ele transmitia, mas ainda assim normal. Passeou pelo café, olhou para mim, pediu licença para falar comigo, e eu fiquei sem saber o que dizer. Se era para os peditórios do costume, eu estava ali a trabalhar e não queria ser interrompida.
Mas não. O senhor só queria mesmo era falar. Ele foi falando, chorando de vez em quando, falando e falando. Não era louco. Sabia muito bem o que sentia e em que situação estava. "Sinto-me sozinho, sinto-me triste, às vezes sinto-me esquizofrénico." No entanto, na aparência, e a acreditar em tudo o que possuía, era uma pessoa abastada. Mas sozinho.
Senti-me tão impotente. Mas ele só queria falar. E olhava para mim, fundo nos olhos. Falei-lhe umas palavras de encorajamento, ainda lhe falei de Deus, mas senti-me impotente na mesma. De que vale falar de Deus a um esfomeado se não lhe der um pedaço de pão? Só depois da barriguinha cheia é que ele poderá ter ouvidos para ouvir sobre tão grande amor. Este senhor precisava de muito mais do que eu lhe consegui dar, é a verdade.
Foi mais uma situação que me marcou. Vim para casa pensativa. O que pensei ainda está em processo. É cedo para pôr em palavras. O que escrevi foi meramente factual. Para que conste. Para que não se esqueça que somos muito pouco neste mundo e que, sozinhos, somos menos ainda. Para que olhemos para os outros com todo o respeito, porque cada um encerra dentro de si um mundo infinito. E que, se o descobrirmos, muitas acções que às vezes até são condenáveis, acabam por ter uma explicação. E aprendemos a entender, a respeitar, a aceitar, a amar e quem sabe, com esse amor, ajudar a mudar para melhor.
Flor!
ResponderEliminarLindo e comovente.
Bjo, tia Norma.