terça-feira, 5 de julho de 2016

Notícias da horta



Na semana passada, a horta recebeu-nos com as papoilas a darem-nos as boas vindas. O dia tinha começado cedo para o homem da casa, que foi de manhãzinha para a terra, tendo eu e a carracinha ido ter com ele carregados com a trouxa para o almoço.


Antes do almoço, tempo para dar uma vista de olhos pela terra e descobrir que o cacto que a carracinha roubou de um jardim há uns anos atrás num dos nossos passeios a pé, para me oferecer - e nunca se cansa de dizer: piquei-me todo! - está a ficar carregadinho de flores. Esta flor amarelinha. Não é linda?


O almoço foi fantástico. Estava calor na temperatura certa, os sobreiros davam a sombra certa, e os passarinhos ensaiavam as melodias certas para nos encantarem. Esta estação pede refeições leves e frescas e foi isso mesmo que nos encheu a barriguinha.


Na horta mesmo, os encantos eram muitos para mim e a enxada continuava encostada. Sinceramente, não lhe peguei. Foi mais produtivo ter registado toda a beleza que testemunhei no nosso pedaço de terra e ver como esta estação a está a tratar :) 


Flores. Todas selvagens e lindas. E todas úteis, tenho a certeza, só não lhes conheço as qualidades para tirar delas melhor partido, a não ser a beleza.


Mas enfim, a horta prospera. Este ano está tudo atrasado devido ao tempo esquizofrénico que temos tido, com chuvas intensas a impedirem as sementeiras e calor repentino e excessivo a trazer moléstias impeditivas do avanço da produção.


Mas o amor e a sabedoria tratam do resto e a obra lá vai progredindo, agora a olhos vistos. Os nossos coentros farfalhudos, os nossos feijões tenrinhos, as nossas batatas saborosas, os nossos alhos com um aroma intenso capaz de afastar qualquer vampiro, os morangos que sobram do festim dos passarinhos, e tantos outros produtos que a terra nos está a devolver.


Este ano o hominho teve a brilhante ideia de intercalar couves, feijões e outros, com alhos. E não é que tem estado a resultar? A bicharada fatídica tem ido pousar noutros sítios onde possa atacar sem ser incomodada. Pois é, temos o orgulho de dizer que a maior parte da nossa produção tem sido tratada com estrume das ovelhas e truques destes, como o do alho, que nos tem poupado muitos desgostos. Vitória!


Nesta altura do ano, nunca estamos sós. Nas terras à volta há quem aproveite a erva seca pelo calor para o gado e o rebuliço do trabalho é imenso. Adoro presenciar esta actividade.


Mas claro que toda esta abundância que está a começar a surgir não seria possível sem o bem precioso e essencial que é a água. Como eu gosto de a ver correr, fresca e cristalina a caminho das raízes sendentas. Graças ao nosso simpático vizinho que nos empresta a água do seu poço, temos tudo verdinho e a crescer.


Os regos que serviam de conduta para a água seguir para o seu destino certo sempre me encantou, desde criança. Bem me lembro de ficar agachada por longos momentos a ver a água a correr, as pedrinhas que se escondiam por baixo dela, algumas mais leves que rolavam ao sabor da corrente, o brilho do sol a espelhar-se na fresquidão, as minhas mãos pequenas que não resistiam a resfrescar-se naquela bênção. Há lá coisa melhor?


As cabeças dos alhos franceses, desta vez albergavam abelhões do tamanho do meu dedo mindinho, bicho que nunca vi na minha vida e que me assustou. Andavam ocupados de volta das sementes, mas quando passavam perto de nós, o barulho das asas a baterem era qualquer coisa de impôr respeito!


Mas indiferente, o nosso marmeleiro promete dar frutos este ano, o que me deixa encantada. Marmelada!


E os primeiros tomates cereja começam a aparecer, crocantes e saborosos, como só me lembro do Verão passado. Adoro esta coisa da sazonalidade, de saborear os alimentos na sua época própria, sem pressa nem atropelos.


E esta é a paisagem mais comum ali por aqueles lados. O rebuliço começa de manhã e vai até ao fim do dia, com tractores a cortar a erva seca e a empilhá-la, deixando-a pronta para consumir. É uma paisagem única, muito própria, esta. Cheia de aromas e dourados. Um trabalho cheio de passos encadeados uns nos outros para darem o resultado final como alimento aos animais. Tudo se aproveita, na natureza.


E enquanto observo a visão fantástica que os nossos alhos me oferecem, penso em como adoraria ter as minhas galinhas e, em vez de deitar todas as cascas dos legumes que preparamos para as refeições fora, seriam atirados para os animais comerem e fertilizarem a terra, num ciclo que a natureza, sábia, sabe manter intacto. A natureza. Porque quando entra a mão do Homem, já nada sai assim tão perfeito... Mas foi perfeita esta tarde, com um homem feliz por trabalhar a terra, um pequeno feliz por participar em tudo e por mim feliz, por sentir toda esta energia maravilhosa que só uma tarde no campo proporciona.


15 comentários:

  1. Que maravilha de post e como tudo está lindo por ai!
    Adorei os azuis...

    Fiquei imaginando o belo almoço ao som dos passarinhos e numa bela sombra! Coisa boa! bjs, chica

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  2. Boas notícias, portanto!

    Bonitas fotos e sente-se a felicidade, ao longo do post!
    Uma horta dá muito trabalho, mas é bonito ver como as coisas crescem e se desenvolvem e depois poder saboreá-las. Não tenho jardim, nem horta, mas vou de vez em quando à horta de um familiar e gosto muito.

    Adorei a flor do cacto.

    Beijinhos e uma boa semana:)

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    1. Só tenho pena que o terreno fique longe de casa, tornando esta actividade pouco prática e mais dispendiosa, mas sim, é muito bonito e a vida no campo tem muitas compensações. Beijinhos.

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  3. Margarida,que fotos lindas! Esse espaço está a ficar cada vez mais bonito... Sabe,por aqui também está tudo muito atrasado e de facto tem a ver com o tal tempo esquizofrénico que refere. Dentro de dias vou de férias e estou mesmo a ver que durante a minha ausência a horta me vai pregar a partida de ter legumes que não vou consumir por não estar cá. Mas a natureza é mesmo assim! Adorei esta sua publicação. Bjinho

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    1. A natureza tem os seus caprichos e nós só temos de aprender a relacionar-nos com ela. Li algures que todas estas alterações climatéricas nos levarão a repensar a nossa maneira de praticar a agricultura e a jardinagem. E eu acredito nisso. Se o clima muda, teremos de mudar com ele... Porque acredito também que, neste respeito mútuo, seremos sempre vencedores. Beijinhos e boas férias! Quando voltar ainda vai consumir muitos legumes da sua horta :)

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  4. Uau!!! Que postagem revigorante!!!
    Adoro papoulas, gostaria de tâ-las por aqui! Adorei a dica do alho! Já tinha ouvido falar, mas uns confirmavam, outros desmentiam, mas agora vou plantá-los no meio das minhas alfaces, couves e tomates.
    Ana, o que é carracinha?
    Andei afastada, enlutada pela perda de um grande amigo. Fiquei sem ânimo, sem vida. Ainda estou, mas temos que seguir em frente. Ele desceu deste trem da vida, mas a gente tem que seguir a viagem até, para buscar justiça e dar forças para a família dele. Vim buscar forças nos blogues que gosto tanto e tua postagem me deu uma injeção de ânimo! Muito obrigada!

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    1. Querida Tiane, já vi que a tua dor está a ser muito grande e deixei os meus votos de melhores dias para ti. Quanto ao alho sim, experimenta, connosco está a resultar! A carracinha é o meu filho. Chamo-lhe carracinha desde bebé porque ele grudava-se em nós como cola :). Carraça é um parasita que se aloja na pele e vai-se alimentando de sangue. Penso que é da família do carrapato. Coisa feia pra chamar a um filho, eu sei, mas não se chama "piolho" por aí, às vezes? Então, os piolhos também não são bonitos :) Beijinhos e papoilas para ti, minha linda.

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  5. Olá Margarida!
    Está linda a sua horta, e promete uma bela colheita, muito bom mexer com a terra
    plantar e ver tudo se transformar rapidamente, amo essa vida.
    Agora por aqui faz muito frio, tempo de se recolher e fazer arte dentro de casa.
    Bem qualquer friozinho já me recolho...kkkkk belos dias pra ti bj

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    1. Obrigada, Lena. Belos dias também para si, a fazer coisas bonitas no aconchego da casa. Depois mando uns legumes pelo correio para vocês :)) Beijos.

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  6. Florrrrrrr!!!
    Sua traidora!!!!!! Como plantam alhos e nada me dizes??!! Grunf e grunf.
    Estou em pulgas de inveja. Mas completamente feliz por vocês. :))
    Te amo.❤️

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    1. Oi Norminha!!!! Estás por aqui, ena ena! E eu não sou traidora, ora essa. O ano passado também semeei e se Deus quiser, para o ano também! E que tu comas muitos dos meus alhos, ah pois :) Beijos, guria :)

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  7. Ana, acaba de entrar por lá um pouco daqui...Obrigadão! Feliz Agosto! beijos, tudo de bom,chica

    Podes ver:

    http://ceuepalavras.blogspot.com.br/2016/08/ceus-da-ana-ribeiro-e-esta-tudo-azul.html

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  8. Cheguei aqui por intermédio de um dos blogues da Chica... e adorei este cantinho... que terei o maior gosto em visitar mais vezes quando voltar de férias... se desejar conhecer o meu cantinho, estamos em artandkits.blogspot.com e será um prazer recebê-la por lá...
    Que imagens encantadoras por aqui!... Adorei tudo!
    Beijinhos! Feliz semana!
    Ana

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