quarta-feira, 23 de março de 2016

Eu, de mim mesma



Por cá a Primavera já chegou e por estes dias, tenta-se fazer as pazes com as emoções e pôr ordem nos pensamentos. Bem tento, mas não consigo fugir ao inevitável daquilo que sou e, ansiosa por alcançar objectivos, não quero entrar no erro de não viver o momento e acabar por ser ingrata por aquilo que tenho, que já é tanto! 
Quando acontecimentos traumáticos nos atingem, e passei por um há mais de quatro anos atrás, tudo muda. Eu mudei. Ao ponto de deixar de me sentir eu própria, ao ponto de buscar constante e desesperadamente quem sou, ao ponto de me sentir tonta a cada instante diante do rodopio que a vida passou a representar para mim.
É como reconstruir uma casa. Por muito bonita que ela tenha sido, com as suas características particulares, com a sua traça histórica, com a sua beleza única, quando reconstruída, não volta a ser a mesma. Pode até surgir mais bonita e esplendorosa, mas igual, jamais. As imperfeições foram corrigidas, a patina do tempo foi escondida, os pontos fortes foram exaltados. E até surgir na sua versão melhorada, paredes foram deitadas abaixo, recantos foram martelados, perfurados e revirados. Foi mexida e torturada até surgir, velha na sua essência, mas brilhante na sua aparência.
Sinto-me como uma casa a ser reconstruída. E dói... Tem os seus momentos bons, quando na beleza de algum recanto refeito, se vê com esperança o potencial da nova construção. Mas depois vem uma nova martelada, um novo furo, uma nova pincelada. A dor volta, e com ela, a desesperança, a dúvida, a ansiedade.
Sinto-me como uma casa em reconstrução. E logo eu, que tenho na casa um dos pontos máximos da vida, como uma estrutura por onde toda uma família com as suas vidas, gira à volta. 
Escrevo isto para me libertar. Escrevo isto para Deus. Não que Ele não saiba já de cor o que vai no meu coração. Mas para que, ao escrever, possa encontrar mais um pouco da luz que busco em dias escuros, porque sempre foi assim comigo: escrever sempre me pôs os pensamentos um pouco mais alinhados e me aliviou. E aliviada, a continuação do caminho faz-se de uma forma um pouco mais leve, o que aumenta as probabilidades de alcançar o sucesso. E sucesso, para mim, é estar em paz; alinhada comigo mesma, com Deus e com os que me rodeiam; é ser feliz, independentemente de qualquer circunstância da vida. 
E oro para que Deus termine depressa esta tarefa de reconstrução. Sinto-me cansada. Que Ele veja em mim o que de mim ainda pode resultar e me faça seguir pelo caminho certo...


5 comentários:

  1. Desejo que o tempo possa sarar essas feridas e que voltes a encontrar-te e encontrar essa paz que todos buscamos e que às vezes se nos escapa. Força!!

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    1. Obrigada, Ana! Um dia de cada vez, tem sido sempre o meu lema. Continuarei a confiar até lá chegar :) Entretanto, gozemos este sol da Primavera ;) Beijinhos!

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  2. Espero que a reconstrução seja breve...
    Um abraço apertado!

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    1. Abracinho recebido :) Irá demorar o tempo que terá de demorar... Um dia de cada vez. Beijos.

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  3. Escrever te liberta, e escreves tão bem! Algumas coisas que acontecem com a gente, não saram nunca. O tempo vai passando, pode até amenizar a dor, mas a cicatriz não sai, fica ali, para lembrar-nos daquilo que gostaríamos de esquecer.
    Cabe a nós, aprender a lidar com esta cicatriz dolorida, e se escrever te faz bem, escreve.
    Pelo que li, tua cicatriz é profunda e dolorida, por isso, fica difícil desejar que a dor passe, pelos motivos acima citado, mas desejo que saibas lidar com ela, principalmente, nos dias escuros. Se conseguires finalizar esta reconstrução, que bom! Tomara que sim! Mas fica em paz! Fica bem! Bjinho!

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