Por exemplo, chegamos a Novembro e recebemos com celebração o Dia de Todos os Santos.
Faz hoje uma semana que os cemitérios se encheram de gente e de flores, a vida a homenagear a morte, já que ambas são o mais natural e certo que temos; alguns tentavam a sua sorte montando banquinhas para vender flores à porta dos cemitérios, não fosse algum visitante mais esquecido aparecer. E as casas encheram as suas mesas com as iguarias da estação e com os tradicionais bolinhos repletos de frutos secos e especiarias. E sabia bem passar pelas ruas com cheirinho a erva doce, trazendo a doce recordação dos tempos antigos, em que as crianças saíam em rancho e de saco na mão a pedir o bolinho de porta em porta. Hoje, já raramente se vêem esses meninos, tendo sido substituída a nossa tradição pela americana :(. Nada contra as tradições dos outros países, mas há que honrar o que é seu e por isso, muito mais do que o "doçura ou travessura", eu prefiro o nosso "bolinho, bolinho, à porta do santinho!" :)
E à mesa por esta altura, fala-se também da apanha da azeitona e qual o lagar que está a fundir melhor, e quantos sacos deu este e deu aquele e fala-se também das tradições que se perderam e que tornavam tudo mais saboroso. Ouvem-se histórias contadas pelos mais velhos, histórias que nos levam para um tempo em que a vida se fazia de uma forma dura mas mais pura e que nos fazem ansiar por voltar lá mas com o conhecimento do hoje, numa tentativa de voltar às origens, à auto-subsistência, à sustentabilidade, ao aproveitamento de todos os recursos da natureza. Fala-se do S. Martinho que aí vem, do Verão que sempre o acompanha, do ir à adega e provar o vinho, do assar das castanhas e mais uma vez, das histórias antigas que são partilhadas.
E é assim nesta estação, que nos leva a procurar o abrigo da casa cada dia mais cedo, porque mais cedo o sol vai espreitar o outro lado do mundo, que à volta de uma mesa e de uma lareira se faz a vida. De ouvidos à escuta e de mãos ocupadas, se faz a vida. E neste dia dos mortos, se fez a vida.
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