As palavras correm soltas dentro de mim mas, tal e qual um rio desgovernado, atropelam e engolem tudo o que apanham pela frente e quando chegam a aflorar a superfície, são já uns salpicos sem força para produzir qualquer efeito.
É esta a incongruência de alguns estados interiores e tal é o meu. Posto isto, a ausência de palavras não se deve à falta de vida, muito menos de sentimentos, mas antes ao esmagamento de emoções a que me sinto sujeita e que me calam a voz.
E ao escrever estas palavras, não o faço como justificação de coisa alguma, faço-o antes como registo de um estado de espírito num percurso de vida intenso na sua essência, e que virá a frutificar no tempo certo.
Já diz a Palavra que há um tempo certo para todas as coisas acontecerem. Não me resta outra atitude, que não a de concordar. Não adianta ter pressa e abreviar o tempo e os acontecimentos.
Sinto-me a despertar de um período de hibernação, mas quando sairei da toca, ainda não sei. Aguardo com expectativa os dias de sol, os dias em que virei cá para fora, restabelecida do longo descanso e renovada de energias, para vir tomar um lindo pequeno-almoço no meio de erva verde, ao som dos pássaros e ao cuidado da brisa sauve. Na mesa, pequena, de madeira velha, uma toalha colorida, sumo de laranja natural e água da nascente em jarros transparentes, e pão e bolos caseiros. E assim, sem pressa, saborear o alimento que reanima o corpo e a alma.
Cada um busca o que quer, cada um alcança aquilo que tem capacidade para alcançar. Que Deus nos ajude a todos. Que o ânimo que Ele insuflou nos nossos espíritos no princípio dos tempos, seja o mesmo que dá vida à nossa existência até ao fim deles.