A estrada é estreita e escura. E muito húmida. Não há qualquer vestígio de luz. Nem uma casa, em boa parte do percurso, só árvores e mata densa. E escuro. O que acrescenta um ar misterioso e assombroso a toda a cena. Lá mais à frente encontramos uma aldeia de casas juntinhas e até um presépio enorme no largo principal - e único, aposto. Continuando em frente, encontramos a velha casa de 1º andar. Em baixo, a entrada faz-se de barris cheios de vinho de colheitas anteriores e calendários de mulheres semi-despidas para deliciarem os olhares dos homens que ali convivem. O senhor, baixo e gordo, vem-nos cumprimentar com um aperto de mão de três dedos, que os restantes foram levados pelos foguetes. Uma escada velha, de madeira, dá para o sótão, onde o espaço era partilhado com ratos, foguetes e camas para dormir. Era, porque desta vez os foguetes estavam dentro do carro, que os ratos andavam esfomeados e roíam as canas todas! Não é castiço? O filho, de sorriso tímido e dentes de ratito, mas ainda com todos os dedos, note-se, conduziu-nos até ao carro. A mãe, velha, baixa, gorda, desengonçada e mal-encarada, observava lá do cimo das escadas, sem dizer nada, para compor todo este cenário delicioso.
Cá fora, o filho, simpático, falava dos tipos de foguetes que estavam dentro do carro. Entre um "zás trás pum", "perrum pum pum" e por aí fora, eu deliciava-me com aquela conversa de idioma estranho, sem perceber nada. No fim de algumas conversações e negociações, trouxemos dois foguetes de cana e uma caixa de chuva de luzes, que um "zás trás pum" identificará imediatamente mas não saí de lá a dominar o vocabulário.
A verdade é que este foi o ano de fogo mais bonito. Chegada a meia-noite e depois de bebido o champanhe e comidas as passas, a gritaria foi imensa e a chuva de luzes foi bonita de se ver. Recebemos o ano com alegria e em alegria ansiamos que continue. Para nós e para todos!