Estavam bons. Mas bom mesmo, foi todo o almoço. Somos só os quatro, como geralmente acontece no almoço de Domingo. O sogrinho e os três cá de casa. Mas as refeições são sempre animadas. Conversamos coisas sérias, coisas engraçadas, rimos, reflectimos, brincamos, fazemos planos, trocamos ideias, debatemos... E hoje foi mais prolongado do que o costume. É que, chegada a hora de ir ao cafézinho da praxe, houve um impedimento: a chuva, que começou a cair copiosamente. Oh que chato, já estávamos prontos para ir e prontos para ir ouvir o sermão do Sr. Xico, que de certeza não se ia inibir nada de dar uns puxões de orelhas no tisoiro.
Eu conto porque, quanto mais não seja, daqui a uns tempos, eu vou divertir-me muito a relembrar toda a cena. Na Sexta-feira de manhã, o tisoiro foi lá comprar pão. Normal, quando o pão falta e eu não tenho feito e/ou congelado. Pouco depois, depois de ele já ter saído para o trabalho e de eu estar quase a sair para o meu, deparei-me com a situação da falta de gás. E como a companhia do gás natural ainda não quis nada connosco, fui eu comprar a botijinha da ordem, no mesmo café. E o Sr. Xico fica a olhar para mim enquanto lhe faço o pedido: "Tá boa. Quer dizer, o marido vem buscar o pão, a mulher vem buscar o gás. Tá certo. Só eu é que nunca tenho sorte nenhuma com as mulheres." E a seguir um carradão de impropérios, como só o Sr. Xico, senhor para quase 70 anos, baixinho, careca e olhar malandro e enérgico sabe fazer. Ia morrendo a rir e o tisoiro também, quando lhe contei, mais tarde.
Mas não, ontem não fomos ao café. Tomámos em casa mesmo. E que bem que soube. O sogrinho tomou o habitual carioca, que lhe soube que nem ginjas. Com o cheirinho, pois tá claro, que já se é demasiado velho para se mudar de hábitos. E já agora, porque não o meu último licor, de erva-doce, que por acaso está de se lhe tirar o chapéu? Tudo isto entre amenas cavaqueiras, pássaros para aqui, autobiografias para acolá, mais horta daqui, mais histórias antigas d'acolá. E em paz, assim fizemos a festa toda.