Conversão

Era noite e eu estava sozinha no meu quarto, deitada na minha cama. Vivia sozinha e sozinha me sentia. Vazia e perdida. Muitos tinham sido os acontecimentos da minha vida que me tinham levado àquele estado. Chegada ali, não tinha mais para onde fugir. Ali, no meu quarto e na minha cama, encontrava-me num beco sem saída. Já nem o choro me valia, porque o choro de lágrimas que lavam e retemperam as forças já tinha dado lugar ao choro sem lágrimas do desespero, do aperto no coração que sufoca.
Alguém sabe o que é isto? Era assim que eu me sentia.
Foi ali, no meu quarto e na minha cama, à noite, sozinha, que decidi dar o benefício da dúvida a uma amiga da universidade, que me falava de Deus, e começar a ler a Bíblia. Eu não tinha nenhuma Bíblia "normal", mas tinha comigo uma que tinha sido comprada pelo meu pai, enorme, pesadíssima, cheia de ilustrações pomposas de papas e santos cheios de ornamentos, capa muito grossa, páginas debruadas a dourado, um luxo e um orgulho para ele, meu pai. Completamente inútil, diria eu, porque ninguém lhe pegara até então. Nem sei porque a trouxe comigo para a minha casa, mas ainda bem que o fiz. Porque foi naquele calhamaço que entrei no reino espiritual. Foi há quinze anos.
E desde então, tudo o que consigo dizer é pouco e são as únicas palavras que melhor definem aquilo que comecei a sentir na altura. Sem saber como nem porquê, comecei a sentir paz, muita paz, e um amor de Alguém por mim como até então nunca tinha sentido. Paz e amor foi o que senti. De uma forma intensíssima, quase palpável, de tal forma, que o vazio começou a ser preenchido e o desespero foi dando lugar à esperança. Até hoje.
Foi um processo lento, gradual, ainda estou em processo e estarei até ao meu último dia de vida. Mas foi ali, no meu quarto e na minha cama, à noite que, mesmo sem saber, me converti à certeza do amor de Deus por mim através de Jesus e que o Espírito Santo foi confirmando a cada dia e a cada palavra que eu lia e sentia dentro de mim. Mesmo sem compreender nada com o entendimento, aceitava tudo com o coração e tudo fazia sentido e assim ia crescendo. A alegria de não estar sozinha e de ter uma esperança eterna davam um novo e profundo sentido à minha vida. E a ânsia de desejar que cada ser humano sentisse pelo menos o mesmo que eu, fazia-me querer mais de Deus.
Já muita coisa se passou desde então. Muita mesmo. Mas continuo pertencendo a Jesus. Porque só Ele salva, só Ele ama, só Ele disciplina, só Ele ensina, só Ele perdoa, só Ele dá a vida eterna, só Ele dá alegria, gozo e esperança, só Ele expressa claramente o que é Igreja e só com Ele é o meu compromisso. Só com Ele a Bíblia deixa de ser um monte de palavras para ser a Palavra que produz vida. E só com Ele a vida é Vida.
Muita coisa mais eu poderia dizer. Mas, essencialmente, Paz e Amor são as palavras que definem a minha conversão. E como bem resume esta experiência, num dos seus livros, Caio Fábio, já por mim aqui citado algumas vezes:

"...a busca pelo Alguém de quem eu sentia saudades chegara ao fim. Agora sabia quem Ele era e também sabia que Ele me amava. E aquele era o sentir mais doce e envolvente que eu jamais experimentara. Era como ser abraçado pela vida e descobrir que a vida, em essência, é uma pessoa. A única pessoa. É o ser em quem todo amor nasce."

P.S. - Ouvi agora mesmo isto pela primeira vez e adorei. E não é que vem mesmo a calhar?! Espero que sejam abençoados.