quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A nossa tarde

Foi uma boa tarde, a de ontem. Estava frio e depois de sair da escolinha, a carraçinha e eu fomos ao avô entregar umas coisas e ficámos. Estava-se tão bem. O sol dava algum calorzinho e estava-se bem cá fora a admirar todas as maravilhas da natureza que resistem às agruras do frio. O alecrim, por exemplo, que está cheio de flor.


A carraçinha tomou conta do pedaço e fomos ficando, até porque o avô estava de feição e acompanhou-o em todas as brincadeiras.


Ele foi martelar, serrar, tudo foi arranjado por ali... ou não... Mas a verdade é que a minha riqueza leva jeito na coisa e ainda vamos ter aqui um carpinteiro sem igual.

E eu ia deambulando por ali. Andava tão contente, que qualquer ervinha me chamava a atenção.

As árvores já estão praticamente despidas por ali. O sogrinho acha que é triste. Eu não. Acho que é próprio da natureza. E se o Inverno leva as folhas e as flores, traz o aconchego da lareira, do cheiro da terra molhada, do orvalho na erva, do brilho limpo do sol, do encosto a uma parede soalheira em busca de calor e de uma boa conversa, e tantas outras coisas. É tudo uma questão de perspectiva. Ou talvez pense assim por ainda não ter oitenta anos. Sei lá...


Com as árvores despidas, os ninhos aparecem a descoberto, mas agora já não há problema, porque os ovos já não existem e os passarinhos já foram embora. O modo como a natureza age de forma tão perfeita, encanta-me. E dá que pensar. Aqui, a carraçinha, não contente por o ninho ter caído para o chão por falta do amparo das folhas, quis que eu o voltasse a pôr no ramo. Será que ele pensa que o passarinho está com saudades de casa?

É só esperar mais um bocadinho, e já se vão comer laranjas daquelas bem doces, de lamber os dedos do sumo que fica.

E mais outro bocadinho, e vão ser saladas e sopas cheias de agrião. Todos os anos apanhamos aqui uma barrigada deles. Abençoado ribeirito que passa aqui junto ao muro. Faz-me lembrar quando eu era mais nova e o meu pai nos levava a uma nascente perto do Agroal e lá apanhávamos carradas de agriões. São tão bons...

Ficámos até o sol se pôr. O frio já estava mais intenso.

Tempo ainda para registar o cata vento que o sogrinho engendrou. Em dias de vento não se pode estar ali. É uma chiadeira... Acho que um bocadinho de óleo faria milagres por ali, mas ninguém me liga...

A lua espreita, anunciando a noite que vem. Não apetece ir para dentro. Mas fica escuro e mais frio e estamos quase a ir embora. Só mais um bocadinho, para brincar à casa assombrada com o avô. Escondem-se lá para dentro e só ouço barulhos estranhos. Vou escutar à porta a ver se está tudo bem. Ouço rir. Eram os fantasmas que estavam a tentar assustá-los, mas acho que estes eram brincalhões porque os faziam rir...

3 comentários:

  1. ...estes textos dão cabo de mim...chego ao fim e babo-me todo!!! muita classe mesmo!!!
    Só mesmo tu...


    rgp

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  2. Bom dia Flor!
    Que bela tarde tu tivestes...
    As sensações que descreves chagam até aqui.
    És poetisa ??? Nem precisas responder.
    Parabéns por seu olhar.
    Bjo, tia Norma :*)

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  3. Ola!! é de se encantar mesmo tanta beleza escondida em pequenos detalhes da natureza de nossa vida , a questão sem duvida é a perspectiva!! bjos.

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