Gosto muito da minha cidade. É muito bonita, muito agradável, cheia de sítios bons para estar. Não me contive, embevecida: "É mesmo bom estar aqui, não é? Imaginem um turista que venha cá pela primeira vez. De certeza que pensa que esta é a cidade ideal para viver. Olhem pra isto: uma esplanada, um grupo folclórico a actuar, uma praça pacífica, uma igreja bonita, esta cor de fim de tarde adorável." Ao que o F. respondeu: "Pois, deve pensar isso. Mas também só tem isto mesmo, não há mais nada pra ver..." Oh meu amigo, eu até compreendo a perspectiva, porque a falta de condições económicas desalenta qualquer um, mas não será assim por todo o país? Não é característica exclusiva da cidade de Tomar, de certeza.
Desde pequenina que ouço comentários deste tipo. A cidade é pequena, não tem nada para ver, não há nada de novo, não se faz nada, não há para onde ir... Uma infinidade de nãos, quando eu acho que há uma infinidade de sins.
Sim ao bem-estar, sim à beleza, sim ao ritmo desacelerado, sim à possibilidade de brincar com os filhos nos jardins, sim à possibilidade de visitar os monumentos, sim à possibilidade de participar dos eventos, sim ao passear sem medo, sim ao almoçar em família, sim ao chegar a casa cedo e fazer um jantar delicioso e comer sem pressas, sim ao andar de bicicleta lá fora, sim ao ver as diferentes tonaldades da luz ao longo do dia, sim ao cumprimentar as pessoas na rua, sim ao tempo para fazer tudo isto.
E sim à disponibilidade de espírtio para fazer e apreciar tudo isto. Pelo que observo, só alguns possuem uma alma que transborda de alegria e gratidão pelas pequenas coisas que se podem realizar. E assim se satisfazem. É um privilégio. Nesta capacidade diária de renovação, de ver nova beleza nas coisas velhas da vida, está o encanto de viver a novidade que a maioria considera cansativa. De outro modo, como duram os casamentos de 30 anos?
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