Fragmentos

Estes são fragmentos significativos dos meus dias. Ao mesmo tempo que não dizem nada, querem dizer tudo. Estes são dias de reflexão, de burburinho interior, de gravidez perto de chegar ao fim para dar à luz qualquer coisa que não sei o que é. Parece que me sinto sempre grávida, mas nunca sei o que dou à luz. Estranho, isto... É uma inquietação que me consome, é um fervilhar que me faz querer estar constantemente a mexer, o cérebro não pára, abro a boca e só me apetece sorrir, num sorriso vago que só quem me conhece consegue perceber, se olhar nos meus olhos e por eles entrar cá dentro de mim.
Muitas são as opções, muitas são as possibilidades, muitas são as coisas que quero alcançar e executar. Mas talvez por serem tantas, me sinta tão pequena para abraçar todas. No fundo, são tudo coisas pequenas e simples, mas são mesmo essas as que tornam a vida tão grande. E eu perco-me nessa imensidão. Como que uma formiguinha à procura de se enroscar nos braços de Deus. Qual pedaço da pele dEle escolher, se Ele é tão grande e ela tão minúscula? Parece-me um pouco isto: eu, tonta, diante de tanta felicidade por estar cada vez mais perto dEle, mas ainda meio perdida por não saber onde me encaixar nesse abraço. 
Confuso? Claro que sim. Se até para mim o é... Só não sinto a confusão nos sentimentos, porque esses são bem claros, estão vivos e são meus. Mas tudo isto é delicioso. Porque enquanto tenho esta percepção, vou experimentando. Um pouco de cada vez, um passo a seguir ao outro, uma mão ao lado da outra e vou fazendo aquilo que o meu coração pede. Mas tudo tem um progresso tão lento, tão lento, que sou obrigada a concordar com o pensamento transcrito no meu último post. Não o postei por acaso, foi por obrigação.
Nestes dias serenos de Outono, com cores de ouro e de terra, vou preparando a vida. Com tanta azáfama interior, o melhor do mundo é perder-me de vez em quando nos meus momentos a observar e a ouvir a natureza e a continuar a mantinha. Na certeza de que não faço crochet apenas para fazer mais uma manta, mas sim faço-o pelo amor de cada malha, neste ritmo compassado que me acalma.